sábado, 28 de abril de 2012

Rocha selante

Me barra, me sela
Com sua baixa permeabilidade
Eu te empurro e te bato
Você cospe plasticidade

Poderia ser uma carta de amor


Fazia tempo que eu não aparecia e ele resolveu mandar uma carta. Sentia a minha falta. Entre palavras disse que gostaria de continuar sendo meu e desatou a falar das vantagens do nosso relacionamento. De como ele, melhor do que nenhum outro, é capaz de suprir as minhas necessidades. Pediu o meu retorno e estipulou um prazo. Caso eu não o cumprisse ele seria, infelizmente, obrigado a romper esse fino laço que ainda nos unia.

Recebi a carta com surpresa. Não achei que 90 dias de inatividade na conta bancária causariam tamanha comoção. Foi tão cuidadosamente escrita que quase fiquei convencida de que meu banco se preocupa com o meu bem estar e que a intenção da carta era, acima de tudo, saber se eu estou bem.

Agora eu tenho um prazo 14 dias para comparecer a minha agência, para que minha conta não seja encerrada. Por que eu não tenho mais o que fazer em dias úteis das 10 às 16h.

Vou lá na minha agência, vou chamar o meu gerente. Vou agradecer a atenção e a bondade em me avisar com prontidão, em notar a minha ausência. Em querer saber se porventura passo por dificuldades financeiras. Falsidade. Os bancos nunca lucraram tanto e nunca fingiram tanto se preocupar com sua clientela.

Vou perguntar sobre as reduções de taxas anunciadas. Para ver se essa propaganda de acesso ao crédito vale mesmo na prática. Mas vou ouvir que a redução deu-se nas taxas mínimas, às quais eu infelizmente não possuo acesso. Ainda, ele há de complementar. Trabalhe, trabalhe, trabalhe que você chega lá. Um dia você entra no jogo, um dia você começa a brincar. (E como criança pequena, nada mais que café-com-leite será.)

Não, esse final não será dito. Mas ele sabe, ele mesmo é um jogador. Com um sorriso forçado, vai no máximo dizer que "vai estar tentando" alguma coisa qualquer. Eu também responderei com um sorriso forçado.

Vou lá na minha agência, vou chamar o meu gerente. Vou sair de lá e vou procurar um Juizado de Pequenas Causas. Esse banco que me quer tão bem vem me cobrando taxas 300% acima do valor correto. Já foi reclamado, já foi estornado, nunca foi consertado.

(Vou, vou, vou, não posso deixar de fazê-lo)

quinta-feira, 26 de abril de 2012

"Noto que estou envelhecendo; um sintoma inequívoco é o fato de que não me interessam ou surpreendem as novidades, talvez porque observe que nada de essencialmente novo há nelas e que não passam de tímidas variações."