Fazia tempo que eu não aparecia e ele resolveu mandar uma
carta. Sentia a minha falta. Entre palavras disse que gostaria de continuar
sendo meu e desatou a falar das vantagens do nosso relacionamento. De como ele,
melhor do que nenhum outro, é capaz de suprir as minhas necessidades. Pediu o
meu retorno e estipulou um prazo. Caso eu não o cumprisse ele seria,
infelizmente, obrigado a romper esse fino laço que ainda nos unia.
Recebi a carta com surpresa. Não achei que 90 dias de
inatividade na conta bancária causariam tamanha comoção. Foi tão cuidadosamente
escrita que quase fiquei convencida de que meu banco se preocupa com o meu bem
estar e que a intenção da carta era, acima de tudo, saber se eu estou bem.
Agora eu tenho um prazo 14 dias para comparecer a minha agência,
para que minha conta não seja encerrada. Por que eu não tenho mais o que fazer
em dias úteis das 10 às 16h.
Vou lá na minha agência, vou chamar o meu gerente. Vou
agradecer a atenção e a bondade em me avisar com prontidão, em notar a minha
ausência. Em querer saber se porventura passo por dificuldades financeiras. Falsidade. Os bancos nunca lucraram tanto e nunca fingiram tanto se
preocupar com sua clientela.
Vou perguntar sobre as reduções de taxas anunciadas. Para ver se essa propaganda de acesso ao crédito vale mesmo na prática. Mas vou
ouvir que a redução deu-se nas taxas mínimas, às quais eu infelizmente não
possuo acesso. Ainda, ele há de complementar. Trabalhe, trabalhe, trabalhe que
você chega lá. Um dia você entra no jogo, um dia você começa a brincar. (E como
criança pequena, nada mais que café-com-leite será.)
Não, esse final não será dito. Mas ele sabe, ele mesmo é um
jogador. Com um sorriso forçado, vai no máximo dizer que "vai estar
tentando" alguma coisa qualquer. Eu também responderei com um sorriso
forçado.
Vou lá na minha agência, vou chamar o meu gerente. Vou sair
de lá e vou procurar um Juizado de Pequenas Causas. Esse banco que me quer tão
bem vem me cobrando taxas 300% acima do valor correto. Já foi reclamado, já foi
estornado, nunca foi consertado.
(Vou, vou, vou, não posso deixar de fazê-lo)
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