A teoria é a seguinte. Não fui eu que inventei. Um parto é vida e luto. A primeira parte é óbvia e vou me permitir pular a explicação. A segunda é que é intrigante. Enquanto na barriga, o bebê é uma expectativa para os pais. Essa pessoa que eles esperam não existe, nunca existirá.  Quem nasce é um bebê de verdade, com seus próprios traços físicos que nenhum ultrassom 3D é capaz de revelar antecipadamente. Com sua própria personalidade, signo e vontades. Os pais, ao se depararem com essa outra pessoa, devem enterrar o bebê imaginado. A dicotomia de sentimentos pode ser mais ou menos intensa, mas está sempre presente. Ao mesmo tempo que os pais celebram a vida, lamentam o luto.

Cadê aqueles seus poemas
Que eu me escondia para ler
Quase proibidos
Mostravam quem era você
Não a sua figura pública
Difícil de lidar
Um lado muito mais generoso
E fácil de se gostar
Você sabendo que era lindo
Fazia questão de engavetar
Eu nunca entendi o por quê
Mas só podia respeitar
Agora você anda mudo
E eu me pergunto o motivo
Se de lá para ca já mudou muito
Se você curte a mesma fonte
Se ainda rima com um sorriso
Ou se o sorriso é o que esconde

Sobre se sentir usada

Numa noite que devia ser feliz
Você acorda reclamando que eu estou com todo o lençol
Só que eu tinha tão pouco que o vento batia nas minhas costas
Reclamou então que eu ocupava sua parte da cama
Quando era justamente o contrário
Era por isso e pelo vento que eu estava me mexendo
Com cuidado para não te acordar
Gritei, é verdade
Fiquei muito irritada
Você negou a minha versão da história
E quando eu disse que você precisaria confiar em mim - você acordou imediatamente reclamando comigo naquele seu jeito grosso de ser, só com as pessoas que você sabe que pode
Você disse que não confiava
Eu mal dormi o resto da noite, por isso não posso reclamar de
quando você acordou e fechou a janela com tanta força
Sem preocupação sobre o barulho que faria acordar

Eu chorava de dor no meu quarto
Perdi a viagem, o Natal
No lugar da desculpa, veio a acusação

O resultado do doutorado
Nenhuma felicitação

Dias depois veio a briga com o Sylvio
Novamente minha tristeza ignorada

A visita no apartamento que eu ia comprar
Preferiu não participar

Eis que um dia você vem no meu quarto
Para pegar a minha água termal
Como você sempre faz

Ainda por cima usou o serum
Lembra, aquele que eu te pedi ajuda em cima da hora
Para mandar uma mensagem em francês
E você, grossa para variar, reclamou até que eu desisti
Melhor era perder R$500
Ajudar você não quer, usar é só o que te interessa

Eis que um dia você fala comigo
Para pedir dicas para uma entrevista

Eis que outro dia você fala comigo
Para pedir ajuda no programa em Python
Com urgência, para hoje
Eu sem reclamar te ajudo como você não fez

E eu que tô há semanas estudando
Fiz a prova sem um "boa sorte" seu
Sem um "como foi?"
Quando você veio no meu quarto
Era só pela água termal

Metalmecânica

És gás percolado
por entre minhas camadas frágeis
Inebria por um instante
Mata rapidamente

Vestígio de veneno no ar
Cuidado
Para não intoxicar
Os vasos sanguíneos
E o coração

Como material corroído
Eu resisto
De fadiga grito
Trinco de dor

De uniforme passado
Entrou em campo para ganhar o jogo
Deitou na cama para dar o corpo
Entregar a alma e o que mais fosse

Montou o posicionamento tático
Partiu pro ataque
Deixou a defesa aberta
E engravidou

A interconectividade está cada vez mais presente em nosso dia-a-dia. Se antes as pessoas usavam agendas de papel para controlar seus compromissos, hoje a agenda é virtual, interativa e encontra-se em rede.
Os amigos podem participar de compromissos sem que sejam necessariamente convidados, o que é considerado por alguns um motivo de briga moderno. Casais separados não mais se esbarram por força do acaso.
O que é o acaso?
O não planejado capaz de mudar destinos. Muitas vezes negligenciado em nossas vidas, o acaso pode ser determinante em diversas situações.
Você pode estar achando tudo muito óbvio, como o fez Diógenes, o cínico, filósofo grego que desde cedo questionava os próprios debates filosóficos. Mas isso não é um debate, é um monólogo, então me permitam continuar.
Veja a influência do acaso no sucesso profissional, por exemplo. O ator Bruce Willis vivia no quinto andar de um prédio sem elevador em Manhattan e trabalhava em peças de teatro pequenas, ganhando o mínimo para se manter. No verão de 1984 ele resolveu ir à Los Angeles, seja para assistir às Olimpíadas (de acordo com a versão oficial), seja para ver uma namorada (o que parece ser a verdade). Lá, ele conheceu um agente que o indicou para alguns testes. Em um dos testes, Bruce Willis ganhou o papel de David Addison, no programa A Gata e o Rato, que veio a se tornar um grande sucesso. O resto da história é desnecessária para os fins deste texto.
Reparem então que a decisão de ir à LA podia ter a ver com Olimpíadas ou com o amor, mas nada tinha a ver com sua carreira, provando então a força do acaso.
(O acaso atua agora, amanhã e sábado também, dia em que ocorrerá a minha formatura de mentirinha.)
O acaso nos colocou no mesmo caminho, mas não só por acaso permanecemos amigos até hoje. E é por isso que convido a todos para esse evento farsante mas especial.
Sábado, às 18 horas, no auditório do bloco A do Centro de Tecnologia - Fundão.
O que acontecerá depois fica por conta do acaso.
O churrasco para comemorar a cirurgia bem sucedida do Pepeu vamos marcar para garantir que ocorra. Vou verificar disponibilidade do dia 2/nov na minha agenda ainda de papel.
Besos besos