quinta-feira, 28 de novembro de 2019

A teoria é a seguinte. Não fui eu que inventei. Um parto é vida e luto. A primeira parte é óbvia e vou me permitir pular a explicação. A segunda é que é intrigante. Enquanto na barriga, o bebê é uma expectativa para os pais. Essa pessoa que eles esperam não existe, nunca existirá.  Quem nasce é um bebê de verdade, com seus próprios traços físicos que nenhum ultrassom 3D é capaz de revelar antecipadamente. Com sua própria personalidade, signo e vontades. Os pais, ao se depararem com essa outra pessoa, devem enterrar o bebê imaginado. A dicotomia de sentimentos pode ser mais ou menos intensa, mas está sempre presente. Ao mesmo tempo que os pais celebram a vida, lamentam o luto.
Cadê aqueles seus poemas
Que eu me escondia para ler
Quase proibidos
Mostravam quem era você
Não a sua figura pública
Difícil de lidar
Um lado muito mais generoso
E fácil de se gostar
Você sabendo que era lindo
Fazia questão de engavetar
Eu nunca entendi o por quê
Mas só podia respeitar
Agora você anda mudo
E eu me pergunto o motivo
Se de lá para ca já mudou muito
Se você curte a mesma fonte
Se ainda rima com um sorriso
Ou se o sorriso é o que esconde